Os anos de 1980



Costumo dizer que sou um cara privilegiado
Afinal, vivi toda a década de 1980
Toda, cada dia, cada mês e cada ano.
Muitos dizem: Ah, mas você era apenas uma criança a maior parte dela
Sim, eles têm razão, era apenas criança a maior parte dela
Mas é por esse motivo que a década de 1980 foi e ainda é a melhor parte da minha vida.
Não sei porque ou como isso acontece
Mas tenho uma facilidade imensa de lembrar de muitas coisas que vivi
Coisas que meus irmãos mais velhos e mamãe nem se lembram mais
Acredito que ter vivido nessa década, algo em mim ficou gravado
Como se fosse uma tatuagem ou implante em meu subconsciente
Não sei explicar ao certo o motivo de ter tanta paixão por essa década.
Nossa vida era muito difícil e mamãe tinha que se desdobrar pra cuidar da gente
Mesmo com todas as dificuldades, a gente era feliz, muito feliz.
As brincadeiras na rua com os amigos até tarde
quando a gente só voltava pra casa quando mamãe gritava na janela de casa.
Vez ou outra a gente dizia para mamãe que ia na casa do amiguinho, mas na verdade, íamos nos aventurar
pelas ruas do bairro e andávamos tanto, que quase nos perdíamos.
Tenho saudade dessa época, época das brincadeiras com bola de gude
Toquinho de madeiras que a gente ganhava de um marceneiro da vizinhança e servia pra gente montar nosso forte apache.
De todas as vezes que a gente vendia ferro velho pra poder comprar maria mole na casquinha
Só pra poder ter mais um bonequinho de soldado que vinha pregado nela.
De todas as vezes que a gente pegar peixe no rio pra montar nosso aquário na banheira velha que tínhamos no quintal.
De todas as vezes que a gente corria da velha bruxa que morava duas casas ao lado da minha
E a gente apertava a campainha da casa dela e saía correndo quando ela gritava que ia jogar a gente no tacho.
De todas as vezes que a gente ouvia o apito da maria fumaça e corria até a rua de baixo
Só pra vê-la passar e acenar para o maquinista e torcer que ele tocasse o apito pra gente.
Acredito que o maquinista também sentia saudade da infância, porque ele sempre que via a gente, apitava a Maria fumaça
E sorria vendo nossa alegria.
De todas as vezes que a gente simplesmente ficava sentado na porta de casa
Olhando o movimento da rua e contando quantos carros vermelhos passavam enquanto estávamos lá.
São muitas lembranças, lembranças que estão aqui guardadas com muito carinho
E que jamais se perderão.
É uma pena que a nossa vida de criança passa tão rápido
Às vezes, acho que isso é uma injustiça e que não poderia ser assim.
De qualquer modo, sou feliz por ter as lembranças sempre frescas na memória
Afinal, não é qualquer um que teve o privilégio de viver os anos de 1980.

Share:

0 comentários:

Postar um comentário